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Edifício Penthouse, em 1987 e em 2011, ao lado do Roff. Foto: Sérgio Tomisaki, Tuca Vieira - Folhapress |
A convite da Personal Guide - São Paulo Specialist,
Flavia Liz di Paolo, participei de um Favela Tour guiado por ela pela favela do Paraisópolis. Participaram também uma amiga dela, Cassia dos Anjos, relações públicas e outro amigo blogueiro e jornalista, Marcelo Barbosa, morador de Heliópolis.
Foi uma tarde tão cheia, tão intensa e conheci tanta gente linda!
Eu já conhecia Paraisópolis, assim como conheço Heliópolis e outras regiões periféricas de São Paulo, mas confesso que não sabia ao certo o que esperar do passeio.
Não esperem de Flavia Liz nenhum tipo de "glamourização" da favela, nenhuma peneira tapando o sol. Ao contrário.
Flavia Liz começa a experiência já no caminho, quando nos encontramos em frente à estação do metrô Faria Lima, passamos pela Marginal Pinheiros e cruzamos o bairro do Morumbi. Dentro do carro, com muito conhecimento, foi nos contando sobre a formação do bairro, da cidade, dos pontos culturais e arquitetônicos pelo caminho.
Antigo Instituto Banco Santos, onde ocorreram exposições de destaque (até que o banqueiro foi preso e seus bens confiscados), Jockey Club de São Paulo, Casa da Fazenda do Morumbi, Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, Palácio do Governo do Estado, mansões - ou melhor, muros das mansões.
É com o devido cuidado que ela nos chama a atenção para o contraste que viríamos a seguir: ao lado das mansões, começa a favela do Paraisópolis, com cerca de 80 mil habitantes em pouco menos de 800 mil m². Ao entrarmos, vemos o edifício residencial de médio padrão Penthouse pela linha reta de uma rua em Paraisópolis. A construção é de 1981, pela construtora de Adolpho Lindenberg, e já foi cenário de novela da Globo.
Segundo o jornal Folha de São Paulo (de onde tirei as imagens acima) a favela começou na década de 1960 com os trabalhadores de grandes obras, tais como o Estádio do Morumbi. Hoje, são 80 mil moradores.
Voltando ao tour. Flavia Liz nos levou a conhecer uma ótima biblioteca comunitária e dois artistas. A biblioteca é a BECEI - Biblioteca Escola Crescimento Infantil - criada por Claudemir Cabral. Sua história é um exemplo de como Deus coloca pessoas iluminadas nos lugares certos. Aos 10 anos de idade ele criou a primeira biblioteca comunitária em favela, aos 13 já alfabetizava adultos. Um dia, durante a aula, sua professora de Port da 6a. série lhe pediu para ler uma das páginas do livro didático em curso. E qual não foi sua surpresa ao encontrar sua história lá!
Aos 15 livros iniciais somaram-se milhares de outros recebidos em doação ao longo dos anos. Agora, o espaço conta com exemplares recém lançados (inclusive um que eu tinha visto no dia anterior à nossa visita e que nem tive tempo de comprar ainda!), computadores, brinquedoteca e até objetos que as crianças agora nem sabem como funcionam, tais como máquinas de escrever e máquinas fotográficas analógicas. Uma vez por mês ocorrem as Baladas Literárias, com direito a luz negra. Começa no começo da noite de um sábado e acabam apenas na manhã do domingo seguinte.
Este sim é o futuro das bibliotecas. Um lugar interessante, divertido, acessível.
Visitamos em seguida os escultures Berbela e Estevão.
Berbela é um funileiro que usa a oficina como ateliê para suas peças com metais reciclados. São criaturas e mais criaturas. Insetos, personagens, helicópteros, animais, formas mil. Tudo começou com uma bicicleta super personalizada que Berbela fez para seu filho há anos e que hoje funciona com um motor, tamanho a transformação pela qual já passou.
São tantas as obras - que, infelizmente, ele não quer vender - que ele já está enfrentando problemas para armazená-las. Berbela precisa urgentemente de apoio para continuar produzindo e armazenando seus trabalhos. Por enquanto, ele conta com nossos ingressos-doações no valor de R$10,00.
Sua prolixidade lembra Francisco Brennand ou Robert Tatin. Claro que são artistas com caminhos e propostas diferentes, mas todos possuem em comum essa incansável produtividade.
Já a visualidade de Estevão tem sido constantemente comparada a de Antoni Gaudí.
Foi sua esposa, Edilene, quem nos apresentou sua casa transformada em obra de arte com objetos reciclados, cimento e uma técnica especialmente desenvolvida por Estevão para fixar os objetos e criar os caminhos tortuosos que percorremos.
A casa possui também um fabuloso jardim suspenso, de onde vemos a favela.
Em todo lugar da casa-arte percebemos a sutileza do humor, a profusão de cores, brilhos e texturas, a resignificação de imagens. Tudo ao alcance da mão, do corpo. É como se as formas brotassem na medida de nosso corpo, relacionando-se com ele.
A casa é completamente funcional, ou seja, lá ele vive com a família. Sua bela esposa mantém a ordem e ainda trabalha como guia dos visitantes que vão até lá. Foi ela quem nos apresentou o lugar, pois o artista estava fora.
Para subirmos ao jardim, nos esgueiramos para cima e para os lados. Mas o corpo segue fluído.
A entrada na Casa de Pedra de Estevão custa módicos R$10,00 de ingresso-doação e é possível comprar pequenas obras e utilitários (encomendei um cachepô para mim) do artista, mas seu ganha-pão é o salário de jardineiro em um condomínio.
Fico me perguntando onde estão os galeristas sagazes neste país. Flavia Liz já apresentou esses artistas para dezenas e dezenas de pessoas. Será que ninguém sacou ainda as joias que temos neles?
É importante lembrar que para entrar em Paraisópolis deve-se estar acompanhado... E faço questão de deixar aqui o contato de Flavia Liz, que já realiza esse passeio há anos:
Bem, aqui vai mais de uma centena de fotos e um grande sentimento de gratidão por esta requintada Personal Guide e todas essas pessoas que levam luz e beleza onde quer que estejam.
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Flavia Liz, a entusiasmante Personal Guide |
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São milhares de títulos na BECEI |
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Espaço livre para crianças |
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Claudemir Alexandre Cabral |
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Prêmios pela dedicação |
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Cabral ao lado de títulos novíssimos |
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Mural de Fotos |
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Olha a Flavia Liz lá! |
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Computadores doados para os usuários da BECEI. |
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A criançada adora ficar lá |
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Acervo de doações |
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Literatura diversificada |
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Peça de uma antiga desnatadeira Alfa-Laval |
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Luz negra, para a balada literária |
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Livro didático onde a história de Claudemir serviu de exemplo para milhares de jovens |
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Texto de Volnei Vatentin, no Metrô News, 29/05/97 |
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Flavia Liz, Alexandre Cabral, , Marcelo Barbosa, Cassia dos Anjos e eu na BECEI |
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Berbela, simpatia em pessoa |
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Berbela |
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Tartaruguinhas |
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A arte de Berbela começa a ocupar o céu |
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Família feliz |
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A bicicleta do sucesso |
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Beberla e sua Árvore em protesto pela destruição da Natureza |
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Detalhe da Árvore, de Berbela |
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A entrada da oficina-ateliê |
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É aqui onde Berbela trabalha. A única proteção é o teto e uma parede |
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Uma tartaruga feita a partir de um carrinho de mão |
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Joelma e Chimbinha |
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Flavia Liz na entrada da casa-arte de Estevão |
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Fachada da casa de Estevão |
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Nossa querida Edilene, que, além de apoiar o marido e cuidar de seus afazeres, ainda
mantém a casa-arte de Estevão impecavelmente limpa |
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Amei esta mesa |
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Flavia Liz nos explica a técnica desenvolvida
por Estevão para fixar suas peças |
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Na sala de visitas |
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Olhando para cima |
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Sala de estar |
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Escada para os quartos |
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Detalhe do quarto das crianças |
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Obras a venda |
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Obras a venda |
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Galeristas, atenção! |
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Vista a partir do Jardim Suspenso |
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Olhando para baixo, a partir do Jardim Suspenso |
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Guia da casa-arte de Estevão |
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Estevão |
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Entre várias campainhas, tocar a com estrela |
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No final do passeio, uma águinha de coco e bananas docinhas para celebrarmos |
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Obrigada Flavia Liz! |