domingo, 29 de julho de 2012

Pura arte em Paraisópolis

Edifício Penthouse, em 1987 e em 2011, ao lado do Roff. Foto: Sérgio Tomisaki, Tuca Vieira - Folhapress




A convite da Personal Guide - São Paulo Specialist, Flavia Liz di Paolo, participei de um Favela Tour guiado por ela pela favela do Paraisópolis. Participaram também uma amiga dela, Cassia dos Anjos, relações públicas e outro amigo blogueiro e jornalista, Marcelo Barbosa, morador de Heliópolis.
Foi uma tarde tão cheia, tão intensa e conheci tanta gente linda!

Eu já conhecia Paraisópolis, assim como conheço Heliópolis e outras regiões periféricas de São Paulo, mas confesso que não sabia ao certo o que esperar do passeio.
Não esperem de Flavia Liz nenhum tipo de "glamourização" da favela, nenhuma peneira tapando o sol. Ao contrário.
Flavia Liz começa a experiência já no caminho, quando nos encontramos em frente à estação do metrô Faria Lima, passamos pela Marginal Pinheiros e cruzamos o bairro do Morumbi. Dentro do carro, com muito conhecimento, foi nos contando sobre a formação do bairro, da cidade, dos pontos culturais e arquitetônicos pelo caminho.
Antigo Instituto Banco Santos, onde ocorreram exposições de destaque (até que o banqueiro foi preso e seus bens confiscados), Jockey Club de São Paulo, Casa da Fazenda do Morumbi, Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, Palácio do Governo do Estado, mansões - ou melhor, muros das mansões.
É com o devido cuidado que ela nos chama a atenção para o contraste que viríamos a seguir: ao lado das mansões, começa a favela do Paraisópolis, com cerca de 80 mil habitantes em pouco menos de 800 mil m². Ao entrarmos, vemos o edifício residencial de médio padrão Penthouse pela linha reta de uma rua em Paraisópolis. A construção é de 1981, pela construtora de Adolpho Lindenberg, e já foi cenário de novela da Globo.
Segundo o jornal Folha de São Paulo (de onde tirei as imagens acima) a favela começou na década de 1960 com os trabalhadores de grandes obras, tais como o Estádio do Morumbi. Hoje, são 80 mil moradores.
Voltando ao tour. Flavia Liz nos levou a conhecer uma ótima biblioteca comunitária e dois artistas. A biblioteca é a BECEI - Biblioteca Escola Crescimento Infantil - criada por Claudemir Cabral. Sua história é um exemplo de como Deus coloca pessoas iluminadas nos lugares certos. Aos 10 anos de idade ele criou a primeira biblioteca comunitária em favela, aos 13 já alfabetizava adultos. Um dia, durante a aula, sua professora de Port da 6a. série lhe pediu para ler uma das páginas do livro didático em curso. E qual não foi sua surpresa ao encontrar sua história lá!
Aos 15 livros iniciais somaram-se milhares de outros recebidos em doação ao longo dos anos. Agora, o espaço conta com exemplares recém lançados (inclusive um que eu tinha visto no dia anterior à nossa visita e que nem tive tempo de comprar ainda!), computadores, brinquedoteca e até objetos que as crianças agora nem sabem como funcionam, tais como máquinas de escrever e máquinas fotográficas analógicas. Uma vez por mês ocorrem as Baladas Literárias, com direito a luz negra. Começa no começo da noite de um sábado e acabam apenas na manhã do domingo seguinte.
Este sim é o futuro das bibliotecas. Um lugar interessante, divertido, acessível.
Visitamos em seguida os escultures Berbela e Estevão.
Berbela é um funileiro que usa a oficina como ateliê para suas peças com metais reciclados. São criaturas e mais criaturas. Insetos, personagens, helicópteros, animais, formas mil. Tudo começou com uma bicicleta super personalizada que Berbela fez para seu filho há anos e que hoje funciona com um motor, tamanho a transformação pela qual já passou.
São tantas as obras - que, infelizmente, ele não quer vender - que ele já está enfrentando problemas para armazená-las. Berbela precisa urgentemente de apoio para continuar produzindo e armazenando seus trabalhos. Por enquanto, ele conta com nossos ingressos-doações no valor de R$10,00.
Sua prolixidade lembra Francisco Brennand ou Robert Tatin. Claro que são artistas com caminhos e propostas diferentes, mas todos possuem em comum essa incansável produtividade.
Já a visualidade de Estevão tem sido constantemente comparada a de Antoni Gaudí.
Foi sua esposa, Edilene, quem nos apresentou sua casa transformada em obra de arte com objetos reciclados, cimento e uma técnica especialmente desenvolvida por Estevão para fixar os objetos e criar os caminhos tortuosos que percorremos.
A casa possui também um fabuloso jardim suspenso, de onde vemos a favela.
Em todo lugar da casa-arte percebemos a sutileza do humor, a profusão de cores, brilhos e texturas, a resignificação de imagens. Tudo ao alcance da mão, do corpo. É como se as formas brotassem na medida de nosso corpo, relacionando-se com ele.
A casa é completamente funcional, ou seja, lá ele vive com a família. Sua bela esposa mantém a ordem e ainda trabalha como guia dos visitantes que vão até lá. Foi ela quem nos apresentou o lugar, pois o artista estava fora.
Para subirmos ao jardim, nos esgueiramos para cima e para os lados. Mas o corpo segue fluído.
A entrada na Casa de Pedra de Estevão custa módicos R$10,00 de ingresso-doação e é possível comprar pequenas obras e utilitários (encomendei um cachepô para mim) do artista, mas seu ganha-pão é o salário de jardineiro em um condomínio.
Fico me perguntando onde estão os galeristas sagazes neste país. Flavia Liz já apresentou esses artistas para dezenas e dezenas de pessoas. Será que ninguém sacou ainda as joias que temos neles?
É importante lembrar que para entrar em Paraisópolis deve-se estar acompanhado... E faço questão de deixar aqui o contato de Flavia Liz, que já realiza esse passeio há anos:

Informações de contato

Celulares
  •             (11) 8119-3903      

Endereço
  • São Paulo, Brazil
BairroJardim Europa

Nome de usuário

Site

E-mail

Facebookhttp://facebook.com/flavializdipaolo

Bem, aqui vai mais de uma centena de fotos e um grande sentimento de gratidão por esta requintada Personal Guide e todas essas pessoas que levam luz e beleza onde quer que estejam.

Flavia Liz, a entusiasmante Personal Guide

São milhares de títulos na BECEI

Espaço livre para crianças

Claudemir Alexandre Cabral

Prêmios pela dedicação




Cabral ao lado de títulos novíssimos

Mural de Fotos
Olha a Flavia Liz lá!



Computadores doados para os usuários da BECEI. 
A criançada adora ficar lá


Acervo de doações
Literatura diversificada


Peça de uma antiga desnatadeira Alfa-Laval

Luz negra, para a balada literária

Livro didático onde a história de Claudemir serviu de exemplo para  milhares de jovens


Texto de Volnei Vatentin, no Metrô News, 29/05/97

Flavia Liz, Alexandre Cabral, , Marcelo Barbosa, Cassia dos Anjos e eu na BECEI



Berbela, simpatia em pessoa

















Berbela






Tartaruguinhas
A arte de Berbela começa a ocupar o céu


Família feliz
A bicicleta do sucesso


Beberla e sua Árvore em protesto pela destruição da Natureza

Detalhe da Árvore, de Berbela


A entrada da oficina-ateliê

É aqui onde Berbela trabalha. A única proteção é o teto e uma parede
Uma tartaruga feita a partir de um carrinho de mão


Joelma e Chimbinha

Flavia Liz na entrada da casa-arte de Estevão
Fachada da casa de Estevão



Nossa querida Edilene, que, além de apoiar o marido e cuidar de seus afazeres, ainda
mantém a casa-arte de Estevão impecavelmente limpa




Amei esta mesa

Flavia Liz nos explica a técnica desenvolvida
por Estevão para fixar suas peças


Na sala de visitas





Olhando para cima










Sala de estar




Escada para os quartos







Detalhe do quarto das crianças







Obras a venda

Obras a venda

Galeristas, atenção!



Vista a partir do Jardim Suspenso










Olhando para baixo, a partir do Jardim Suspenso






Guia da casa-arte de Estevão

Estevão








Entre várias campainhas, tocar a com estrela
No final do passeio, uma águinha de coco e bananas docinhas para celebrarmos 


Obrigada Flavia Liz!







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Curtindo São Paulo como uma turista de Alexandra Rocha é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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